Revitalização das Línguas Indígenas no Brasil: preservação a cultura dos povos originários
- Indaya Morais
- 25 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Projetos educacionais se dedicam na conservação de diálogos e narrativas entre as comunidades

Acervo Funai | Site Governo Federal
O Brasil possui uma ampla variedade linguística, mas devido a fatores históricos, sociais e políticos, muitas correm o risco de desaparecerem. Historicamente, a violência contra os povos indígenas no país promoveu ao longo de séculos a extinção de muitas línguas originárias. Contudo, projetos e iniciativas educacionais atuam na revitalização dentro das comunidades, por meio de ações de incentivo e capacitação de professores.
Com a chegada dos invasores europeus, as mais de mil línguas nativas da época foram sumindo, hoje, são cerca de 274 idiomas falados, entre aproximadamente 305 povos que resistem. A influência predominante do português, obrigou muitos jovens indígenas a abandonar suas línguas maternas, com isso, muitas dessas línguas têm poucos falantes e estão em risco.
O desaparecimento dessas línguas se ocasionou por diferentes motivos: a política de catequização, o deslocamento forçado de comunidades indígenas, a proibição do uso das línguas e a marginalização de sua cultura. Essa extinção representa uma perda significativa da herança cultural e histórica do Brasil, cada língua contém uma coleção de saberes sobre medicina, tradições e conservação ambiental.
Além disso, o fortalecimento da língua de um povo passa por vários processos de estudos, como o de tradições e o de fortalecimento da espiritualidade. Preservando suas identidades e ancestralidades entre gerações. É importante ter os anciãos nesse processo de revitalização, visto que são os mais velhos que guardam a memória do povo indígena.
Portanto, a luta pela valorização dessas línguas ganham destaque em diversas ações institucionais e educacionais promovendo o ensino e a prática de línguas nativas. Garantir a educação escolar indígena, como previsto na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), é fundamental para o protagonismo e reafirmação das identidades étnicas.
Um exemplo é o projeto Escola Indígena do Povo Guarani (São Paulo), o Projeto de Educação Bilíngue da Terra Indígena Pataxó (Bahia) e a Escola Indígena Araribóia (Maranhão), que tem sido implementado em algumas escolas indígenas nas regiões com a proposta de oferecer o ensino bilíngue em que as crianças aprendem em suas línguas maternas e em português.

Ensino na Escola Municipal Indígena Wazare, no Mato Grosso. Foto Guto Martins Funai.
Apesar dos avanços, esses projetos enfrentam alguns desafios com a falta de recursos, a escassez de materiais didáticos adequados e falta de capacitação de professores. Muitas comunidades indígenas têm tomado a iniciativa de criar seus próprios programas de ensino. E organizações como o Instituto Socioambiental (ISA) apoiam esses esforços com treinamento para professores locais e fornecimento de materiais didáticos.
Além dos projetos de ensino bilíngue, mais universidades e centros de pesquisa têm se interessado em estudar e documentar as línguas indígenas. Iniciativas como Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), contribuem com a criação de acervos gramaticais, com narrativas tradicionais gravadas que podem ser utilizadas como ferramentas educacionais.
Diante deste cenário, o futuro das línguas indígenas no Brasil depende do reconhecimento e apoio contínuo. Para garantir que a riqueza cultural dos povos originários permaneça viva é fundamental a integração de suas línguas e saberes tradicionais ao currículo escolar. A revitalização das línguas nativas é um processo de afirmação da identidade cultural de diversos povos ao redor do país, e a luta por esse legado precisa ser uma prioridade do Estado, com apoio governamental, mais políticas públicas junto às ações das instituições.
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