Novo quadro do HNC irá contar sobre personalidades negras e indígenas. Vamos resgatar essa história.
A vida de Xica Manicongo, reconhecida como uma das primeiras pessoas transgênero documentadas na história do Brasil, é marcada pela luta e pela afirmação de sua identidade em um contexto colonial extremamente opressor. Sua trajetória é um símbolo de resistência e luta por reconhecimento e liberdade para as pessoas trans, travestis e negras.
Originalmente trazida da África Central, foi escravizada e levada para a cidade de Salvador, na Bahia, onde foi obrigada a viver sob as duras condições da escravidão no Brasil do século XVI. O nome Manicongo sugere que ela era originária do Reino do Congo, uma região que hoje corresponde a partes de Angola, Congo e Gabão.
Inclusive, seu sobrenome pertence a um título que era utilizado pelos governantes no Reino, no qual essas pessoas eram frequentemente vistas como mediadoras entre o mundo espiritual e o material, ocupando posições de respeito em suas comunidades. Também se tinha uma tradição cultural em que pessoas desempenhavam papéis de gênero distintos daqueles atribuídos ao gênero em que lhe foi designado.
No Brasil colonial, Xica Manicongo chamou a atenção das autoridades e da Igreja Católica por desafiar as normas de gênero da época. Ela se recusava a utilizar o nome e os trajes masculino que lhe foi imposto, continuava a usar suas vestimentas femininas, assim como fazia em África. E vivia de acordo com sua identidade de gênero, algo que era visto como uma afronta aos padrões morais e religiosos da sociedade.
Após ser denunciada, Xica foi julgada pelo Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, Instituição da Igreja Católica responsável por julgar e punir crimes de “heresia”. Em consequência, ela foi condenada à pena de ser queimada viva em praça pública e de ter seus descendentes desonrados até a terceira geração. Para escapar da pena e da pressão social, ela abdicou de sua verdadeira identidade feminina e passou a adotar um estilo de vida direcionado aos homens da época.
Sua resistência em um contexto de violência e opressão faz dela uma figura emblemática na luta pela diversidade e pelos direitos LGBTQIAPN+. É um exemplo de como as culturas africanas influenciaram a formação da sociedade brasileira, trazendo consigo tradições e visões de mundo que desafiaram as normas europeias impostas.
Hoje, a trajetória de Xica nos convida a refletir sobre as raízes profundas da diversidade de gênero e sexualidade na cultura africana. A escola de samba Paraíso do Tuiuti escolheu contar sua história no enredo do carnaval deste ano, que será desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, celebrando Xica Manicongo como um ícone de luta e representatividade.

コメント